Texto/Imagem por Felipe Arruda

Ao escrever Efeitos, aprendi que é difícil afirmar quando se começa um livro. Ficou, no saldo dessa estreia, a impressão de que é algo que tem vários começos. O momento em que se escreve o primeiro texto é um deles. Mas também quando se descobre o título, quando se conta a ideia para alguém, quando se coloca o projeto à prova de seu próprio crivo, quando se decide que ele vale a pena.

 

Assim, melhor dizer que Efeitos começou com um exercício. Foi pela prática de uma liberdade quase infantil que passei a imaginar textos curtos, que tiveram o atrevimento de convidar à convivência coisas como um matinho que cresce no topo de um prédio e uma senhora que troca de olhos com um poodle. Não sabia aonde estava indo, mas reconhecia uma paisagem desejada.

 

A paisagem de Efeitos é diversa. Logo que surgiram os efeitos de número 1 a 5, já estava presente a vontade de dar diferentes tratamentos à linguagem, de lidar com a variedade de assuntos e imagens, de não criar uma relação direta entre eles. Entendi que o que daria coerência ao conjunto seria uma espécie de personalidade dos textos, que tinham em comum a ironia, a metalinguagem, o distanciamento do real e a forma curta e de gênero indefinido. Além disso, mais intuição e menos controle. Tinha uma lente ajustada para ver no mundo aquilo que eu passei a chamar de efeito.

 

Essa palavra foi escolhida, a princípio, pelo apelo visual de alguns textos, depois pelos jogos com a linguagem, então pelo fato de não serem contos, nem crônicas, nem poemas e, no fim, por eu crer que poderiam dar conta de uma família de identidade múltipla. Ao nomear todos os textos efeitos, numerando-os sucessivamente, o termo foi perdendo, aos poucos, para mim, os significados a ele atrelados, para significar nada, ou alguma outra coisa já distante de si.

 

Durante cerca de um ano, 53 efeitos se candidataram ao livro, gerando mais de uma dezena de versões semifinais, que sempre terminavam com 37 textos escolhidos. Essa organização muitas vezes foi feita sobre o tapete grande da sala de casa, com os textos impressos em páginas individuais posicionadas sequencialmente. Assim, eu podia reordená-los com mais facilidade do que no computador, conseguia visualizar o livro de forma imediata como conjunto e me entretinha, literalmente, contornando o problema.

 

Depois de três anos do início — com reescritas, leituras críticas de amigos e revisões — o livro ficou pronto em Berlim, onde morei por um ano. Na volta a São Paulo, Efeitos foi lançado pela EDITH, na abertura da Balada Literária. Aprendi, nesse dia, que é difícil afirmar quando se termina um livro. O último conto, o ponto final e o envio à gráfica são fins possíveis. Lançá-lo ao mundo é, sem dúvida, um recomeço.

 

E se relatar o processo de escrita é uma forma de recomeçar, é também penar para dizer do que trata o livro. Certo de que esse texto não dá conta da tarefa, compartilho uma breve nota (ver ilustração acima) sobre cada efeito, na esperança de que também não seja o suficiente, e de que reste só mesmo a ele — ao livro — essa função.