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Em parceria, as editoras n-1 e Crocodilo lançam nesta semana nova edição de um dos mais importantes trabalhos da filósofa norte-americana Judith Butler (foto), Corpos que importam (1993). O projeto gráfico do livro remete ao formato de uma Bíblia. Em novembro de 2017, Butler veio ao Brasil para uma série de eventos e foi alvo de perseguição por parte de ultraconservadores, ainda na esteira da censura contra a exposição Queermuseu – cartografias da diferença na arte brasileira. Em apenas uma semana no país, a pensadora foi alvo de passeatas, chamada de “bruxa”, “ameaça para a família” e chegou a ser agredida no Aeroporto de Congonhas (SP).

O pesquisador Pedro Paulo Pereira (Unifesp) – autor do livro Queer in the tropics: gender and sexuality in Global South (que conta com prefácio de Butler) – lembra que, após Butler publicar Problemas de gênero (1990), surgiram críticas segundo as quais haveria uma centralização no discursivo que produziria uma obliteração do corpo. "Em Corpos que importam, no entanto, Butler vai abordar diretamente o tema da materialidade do corpo, mostrando como as relações de poder conformam corpos, sexo e gênero. Ela mostra como os corpos tomam forma: seus modos de existência, como são apreendidos e a sua legitimidade. Para Butler, corpos que importam são corpos que se materializam, adquirem significado e buscam legitimidade”, aponta Pereira.

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Segundo Pereira, o pensamento de Butler vai sendo desenhado no decorrer do livro, em finas análises de filmes e literatura que “antes de cair em um construtivismo fácil, busca entender e demonstrar como o debate essencialismo/construtivismo cai em paradoxo, que nunca é superado”, destaca. “Em realidade, Corpos que importam tenta superar a oposição entre o voluntarismo e o determinismo, buscando valorizar os processos de invenção que não se conformam à redução à regra, lei ou valor, mas que na qual o sujeito não é inteiramente livre para ignorá-los. Butler sustenta que não seríamos apenas efeitos de discursos, pois os discursos e regimes de verdade nos constituem sempre a um determinado preço. Talvez seja interessante ler Corpos que importam como uma maneira de lidar e enfrentar desafios políticos e intelectuais e dar novos contornos aos problemas contemporâneos de materialidade dos corpos, formas de agência e da legitimidade de corpos estranhos”, continua.

Para ele, “nada mais oportuno em época de 'ideologia de gênero', busca de controle das escolas e das universidades e de ações que objetivam relegar os corpos dissidentes à subcidadania, à violência e, no limite, ao extermínio”.

O livro está à venda no site da n-1 por R$ 98.