Diante de tantos lançamentos e discussões que envolvem o livro enquanto objeto, fizemos nossa lista das melhores capas de 2019. Este é o quarto ano que fazemos essa escolha. O esquema: pedimos a nossos designers – Eduardo Azerêdo, Filipe Aca, Hana Luzia e Janio Santos – e algumas de nossas colaboradoras – Karina Freitas e Maria Luísa Falcão – que elegessem as melhores do ano. São elas e eles que pensam a imagem do Pernambuco nas versões impressa, online e redes sociais.
O critério é livre.
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>> Eduardo Azerêdo
The municipalists (Seth Fried)
Editora: Penguin Books USA
Capa: Matt Taylor
Nessa capa, a paleta de cores e as formas duras já me conquistaram e acabaram prendendo minha atenção para perceber, posteriormente, os brilhos que revelam materialidades dos objetos e o clima futurista. Muito bonita.
Triste (Rafael Sica)
Editora: Lote 42
Capa: Stêvz e Rafael Sica
Nesse projeto, tudo parece refletir a ideia do livro. Os elementos trazem a sensação de algo bastante pessoal, desde o papel da capa, o traço hesitante, a encadernação em espiral, o título (aparentemente?) manuscrito, tudo parece remeter o rosto do personagem debaixo da árvore com espírito melancólico. É uma capa que me faz querer ir além dela.
Laranja mecânica (Anthony Burgess)
Editora: Aleph
Capa: Giovanna Cianelli
Escolhi essa pois foi uma das que mais prenderam a minha atenção. A tipografia usada conversa muito bem com o jogo de luz e sombra da ilustração e a composição de cores da figura faz com que o fundo branco não deixe a capa com uma impressão de "vazio" que essa cor poderia passar. Todos os elementos parecem harmonizar entre si desse projeto, tudo funciona.
Os despossuídos (Ursula K. Le Guin)
Editora: Aleph
Capa: Giovanna Cianelli e Marcela Cantuária
Essa capa me atraiu pelas várias camadas de cores que vão dando uma sensação de profundidade da base para o topo. A mistura e combinação entre tons – ora bem contrastantes, ora bem suaves –, me faz querer observar a capa por mais tempo que o habitual. Belíssima.
Dead Astronauts (Jeff Vandermeer)
Editora: MCD
Capa: Rodrigo Corral
Se eu visse esse livro na prateleira, com certeza teria o impulso de pegá-lo. O conjunto de cores, borrões e as imagens, parte identificáveis e parte abstratas, dão ideia de movimento muito interessante na qual a tipografia parece subir e o fundo cair em alta velocidade.
>> Filipe Aca
O fim da eternidade (Isaac Asimov)
Editora: Aleph
Capa: Luciano Drehmer
As cores vibrantes atraem a vista logo de longe, de perto as ilustrações e o lettering do título encantam ainda mais. Num livro que fala de viagens temporais a capa representa bem essa sensação de dobrar o tempo. Amo também esse caráter pop que traz pra obra com as cores saturadas e vibrantes, além do estilo de ilustração que me lembra aquelas histórias de sci-fi de baixo orçamento dos anos 1960. Perfeita.
A mão esquerda da escuridão (Ursula K. Le Guin)
Editora: Aleph
Capa: Giovanna Cianelli e Marcela Cantuária
Como fazer uma capa para um livro sem parecer óbvia? Pra mim essa é a resposta. Essa capa é uma das mais chiques que vi esse ano, ela sempre me faz parar um tempo pra poder apreciar, assim como uma obra de arte. O que mais me encanta são as cores vibrantes e contrastantes, o céu vermelho e essas duas figuras que você não consegue identificar quem ou o que são. Tão linda que queria essa capa pendurada na parede de casa.
Sobre os ossos dos mortos (Olga Tokarczuk)
Editora: Todavia
Capa: Flávia Castanheira
O que mais gosto nessa capa é que num primeiro olhar, de longe, você pensa que se trata de um livro fofo e divertido, mas ao se aproximar repara nesses detalhes macabros e estranhos como o coelho decapitado pingando sangue. Isso basicamente traduz o espírito do livro, uma história de suspense que lida com temas como vida e morte, loucura, injustiça e direitos dos animais.
A metamorfose (Franz Kafka)
Editora: Antofágica
Capa: Pedro Inoue e Lourenço Mutarelli
Design de Pedro Inoue e ilustração de Mutarelli. Li A metamorfose pela primeira vez quando tinha uns 18 anos, foi um dos livros que mais impactaram naquela época. Essa capa traduz os horrores que o Gregor Samsa passa durante o livro e me faz lembrar das sensações daquele primeiro encontro.
O pêndulo da democracia (Leonardo Avritzer)
Editora: Todavia
Capa: Bloco Gráfico
Gosto dessa por ela ser simples e minimalista. Ela constrói uma narrativa somente com retângulos, quadrados e triângulos, você pode atribuir vários significados e desenvolver diversas histórias com muito pouco e isso é genial.
>> Hana Luzia
Preocupações (Ana Guadalupe)
Editora: Macondo
Capa: Otávio Campos e Juliana Bernardino
A escolha da emocionante pintura de Juliana Bernardino para capa foi certeira, porque transparece a paranoia, a ironia, as separações, a melancolia e o medo que encontramos nos seus poemas, como em "No quarto escuro": "no quarto escuro não importa / se as janelas não se abrem há um ano / se é chuva de vento ou a tempestade do século / se lá fora você anda sem sombrinha / e vai acabar morrendo de pneumonia / por negligência minha"; e em "A eventual visita da poesia": "por quanto tempo / terei dinheiro para viver nesta cidade / antes que pese demais o medo / e o medo me roube a energia?".
UBIK (Philip K. Dick)
Editora: Aleph
Capa: Giovanna Cianelli e Rafael Coutinho
A capa representa a ubiquidade abordada na obra - o spray UBIK - através dos fragmentos de diferentes planos que se misturam na história e na ilustração. A tipografia diferenciada do título remete ao uso do spray (na "tinta" escorrendo na letra K) e às tipografias psicodélicas dos anos 1960 e 1970 – época de criação e publicação da obra – e do boom da estética e do consumo futurista no design.
Ideias para adiar o fim do mundo (Ailton Krenak)
Editora: Companhia das Letras
Capa: Alceu Chiesorin Nunes
A linda tipografia junto aos grafismos indígenas é simples, harmônico e, para mim, representa visualmente o conceito de "suspender o céu", presente nos discursos de várias lideranças indígenas.
A fúria (Silvina Ocampo)
Editora: Companhia das Letras
Capa: Elisa von Randow e Cristina Daura
A capa, ilustração da espanhola Cristina Daura, representa não somente o universo sinistro e fantasioso da obra, mas também faz referência a uma particularidade da autora: a ausência de seu rosto em várias de suas fotografias.
We kiss the screens (Tea Uglow e AI called George)
Editora: Visual Editions
Capa: Nina Jua Klein
Livro impresso sob demanda a partir da experiência e interação do usuário em um livro digital, a partir de uma narrativa múltipla. Logo, cada livro é diferente assim como as cores da capa. É um livro que explora a personalização digital em vários espectros. Resultado de experimento entre a Google Creative Lab e a editora londrina Visual Editions.
>> Janio Santos
No calor da hora (Walnice Nogueira Galvão)
Editora: Cepe
Capa: Karina Freitas
A obra condensa a cobertura jornalística da Guerra de Canudos feita pelos periódicos da época. Destaque para os pictogramas, as cores e as texturas utilizadas, que traduzem com maestria o sentimento de efervescência do conflito. O que vemos é uma capa em constante ebulição.
Darwin por Darwin (seleção e organização de Janet Browne)
Editora: Zahar
Capa: Rafael Nobre
Livro composto por centenas de escritos selecionados que revelam a vida e obra do autor de A origem das espécies. Na capa, uma lúdica ilustração da figura do "pai" da teoria da evolução, cercado por pássaros e folhas, formando um mural vivo.
Frank e o amor (David Yoon)
Editora: Companhia das Letras (selo Seguinte)
Capa: Owen Gildersleeve
Uma capa de romance com bela solução tipográfica. A fonte é vazada, o que faz com que dentro dela se revelem novas camadas, criando profundidade. Além disso, há o uso de cores mais vibrantes, tudo condizente com o caráter juvenil da obra.
O caso Tuláiev (Victor Serge)
Editora: Carambaia
Designers: Estúdio AOQUADRADO (Luana Luna e Lucyano Palheta)
A capa segue a estética que ditou o Construtivismo russo, com cores puras e formas geométricas. No centro, a representação de uma arma, elemento chave do romance que passa na União Soviética dos anos 1930. Além disso, algo incomum nas capas de livro: não tem o nome da obra e nem do autor.
Pós-verdade e fake news (Mariana Barbosa)
Editora: Cobogó
Capa: Felipe Braga
Uma capa que nos traz a memória aquele erro clássico do Windows XP, onde a janela deixa rastros de si mesma por onde passa. Ótimo recurso para representar a praga de desinformações que acompanham o Brasil e o mundo.
>> Karina Freitas
Cada um morre por si (Hans Fallada)
Editora: Carambaia
Capa: Estúdio Grade
O projeto gráfico traduz o viés sombrio do livro numa paleta em preto e branco e uso de tipografia gótica especialmente criada para esta edição. A escolha tipográfica remete ao tempo histórico em que o romance é ambientado, a conturbada Alemanha de Hitler.
Mary Ventura e o Nono Reino (Sylvia Plath)
Editora: Biblioteca Azul / Globo Livros
Capa: Bloco Gráfico e Paola Saliby
Com projeto do estúdio Bloco Gráfico e ilustração da talentosíssima Paola Saliby, a capa do livro de Plath é poética, impactante e consegue tirar da síntese a sua potência visual.
A fúria (Silvina Ocampo)
Editora: Companhia das Letras
Capa: Elisa von Randow e Cristina Daura
A capa de Elisa von Randow ganha força absurda com a ilustração de Cristina Daura. O repertório visual de Daura tem no estranhamento e no fantástico seus argumentos, pedindo automaticamente uma segunda leitura e chamando atenção com uma paleta de cores super saturadas.
A carta (Org. de Naercio Menezes Filho e André Portela Souza)
Editora: Todavia
Capa: Bloco Gráfico
Capa sutil e subversiva. Traduz de forma brilhante um livro que analisa a Constituição brasileira em tempos de crise democrática. A paleta de cores majoritariamente frias foge do lugar comum verde-amarelo e oferece uma outra perspectiva visual ao tema.
Nossos poemas conjuram e gritam (Conceição Evaristo, Esmeralda Ribeiro, Jarid Arraes, Lívia Natália, Natasha Felix, Neide Almeida e Nina Rizzi)
Editora: Quelônio
Capa: Silvia Nastari
A capa foi planejada para ser impressa em tipos móveis, em três cores e toda edição especialmente elaborada manualmente. Uma publicação preciosa, como todas as edições da Quelônio.
>> Maria Luísa Falcão
Às voltas com Lautréamont (Laymert Garcia dos Santos)
Editora: n-1 edições
Capa: Érico Peretta
Este projeto me interessou bastante, assim como outros da n-1, por considerar o livro como um objeto em sua materialidade. Tudo aquilo que o envolve (neste caso, literalmente) faz parte da narrativa e serve pra interação com o público.
O livro dos jardins (Ana Martins Marques)
Editora: Quelônio
Capa: Silvia Nastari
O uso de papel artesanal deu um toque super especial, funcionando bem com a proposta da narrativa, e se percebe a atenção que se deu aos detalhes. Além disso, é preciso valorizar publicações que mantém vivas técnicas artesanais, como neste caso a encadernação e impressão tipográfica - já que o livro foi todo impresso em linotipia e tipos móveis.
O alforje (Bahiyyih Nakhjavani)
Editora: Dublinense
Capa: Luísa Zardo
A ilustração, ademais seu apelo estético, parece traduzir a essência do livro através de detalhes além das figuras principais, como no uso de texturas que remetem ao deserto e simbologias.
Espaço em obra: cidade, arte, arquitetura (Guilherme Wisnik)
Editora: Edições Sesc
Capa: Julio Mariutti
Neste projeto, os tipos formam uma espécie de processo construtivista, sendo o próprio objeto "em obra", e dispostos em maneira muito interessante. De certa forma, a construção geral também se relaciona ao que o leitor imagina quando falamos de arquitetura e planejamento urbano; pelas figuras e o aspecto moderno da própria escolha de fontes.
Escrever sem escrever: Literatura e apropriação no Séc. XXI (Leonardo Villa-Forte)
Editora: Relicário Edições
Capa: Ana C. Bahia
O apelo desta capa aparece na forma em como lida com a temática do livro, traduzindo visualmente a reescrita e apropriação de textos de maneira intrigante e certeira.