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Se há um ponto em comum em todas as edições da Flip é a forma como a política acaba tornando o centro das atenções. Foi o caso da primeira mesa desta manhã de sábado, reunindo a crítica literária argentina Beatriz Sarlo e a jornalista e escritora portuguesa Alexandra Lucas Coelho, com o tema Turistas aprendizes. A política chegou à discussão apenas no final do debate, com a provocação da mediadora em relação à crise política brasileira, dentro do contexto da situação da esquerda na América Latina.

Sarlo, grande crítica do kirchnerismo, pensou e deu um longo suspiro antes de começar a discorrer, ressaltando que a discussão sobre a esquerda tem sido um tema que atravessa toda a sua vida. “Com exceção do Chile, que não precisa de líderes carismáticos nem da direita nem da esquerda, a América Latina sempre buscou líderes carismáticos. O carisma é algo físico, que não pode ser passado de uma pessoa para outra. Você pode preparar um político, um intelectual, mas não pode preparar um líder carismático. Não há como criar o carisma de um Perón, de um Chávez e de um Lula. A primeira vez que apertei a mão do Lula senti a força do seu carisma. É físico”.

A crítica destacou que a primeira vitória de Lula foi um sonho da esquerda da América Latina. “Eles estava cercado de intelectuais de verdade, de grandes intelectuais”, destacou. Sarlo ressaltou que a forma como o sistema político brasileiro funciona, com aliança entre partidos, acaba favorecendo a corrupção. “Nunca imaginei que o (José) Dirceu, braço direito do Lula, fosse ser preso. Na Argentina o vice-presidente está sendo investigado por corrupção por compra de carros. Aqui no Brasil os políticos corruptos usam o dinheiro uma parte para o seu bolso, a outra parte para fazer alianças. Não quero dizer que o Brasil esteja maravilhoso, mas prisões estão sendo feitas. Na Argentina, os casos seguem sem que haja detidos”, continuou.

Após cobrir conflitos no Oriente Médio, Lucas Coelho veio trabalhar no Rio de Janeiro como correspondente em dezembro de 2010. Cobriu a tomada do exercito nas favelas cariocas e as manifestações de 2013: “Foi um momento que se quebrou aquele clichê de que o carioca não se importa com nada. Naquele momento, o Rio estava no centro desses conflitos políticos. Se podemos dizer que aprendemos algo com as passeatas de 2013 foi que ir para as ruas, sim, isso serve para alguma coisa. Foi uma lição política importante para o Brasil”. A jornalista defendeu ainda o fim do militarismo da polícia e acabou recebendo um comentário machista, para dizer o mínimo, do público.

Um membro da plateia, ainda que num tom elogioso, enviou uma pergunta para a autora, dizendo que não imaginava ela em meio a um conflito no Oriente Médio. “Os mesmos armamentos que vi no Oriente Médio, encontrei nas favelas cariocas”, respondeu. "Os habitantes do Rio enfrentam diariamente uma violência bárbara. O Rio vive à beira de um milagre".