1 - A pernambucana Adelaide Ivánova (foto) emocionou a plateia durante sua intervenção no projeto Fruto estranho (que trouxe seis poetas para fazer performances antes de mesas da programação principal). Também tradutora e fotógrafa, Adelaide descreveu imagens de feminicídio, citando o nome e a situação do corpo da vítima. Ao final, repetia: “a foto está online”.
2 - Na sua digressão, Adelaide Ivánova destacou que não há imagens dos três anos de tortura sofrido pela presidenta Dilma Rousseff. Mas que há a imagem de um adesivo com Dilma com as pernas abertas, para ser colado em carros, fazendo referência ao local onde é inserido o combustível. “O adesivo pode ser comprado online”. Ao chamar o processo de impeachment de “golpe”, foi ovacionada pela plateias da Igreja da Matriz e do telão armado na praça, em um dos momentos mais emocionantes da programação principal.
3 - O projeto Fruto estranho foi um enclave especialmente político numa Flip marcada por discursos políticos e ativistas, começando com o poema visual sobre visibilidade indígena de Josely Vianna Baptista na quinta, passando pela lembrança da Chacina de Cabula (em fevereiro de 2015, 12 jovens negros foram mortos por PMs no bairro do Cabula, em Salvador) feita por Ricardo Aleixo na noite de sexta.
4 - Ao final da sua performance, Ricardo Aleixo, inclusive, cumprimentou a curadora da Flip, a jornalista Josélia Aguiar, com a frase: “Uma curadoria que lê poesia brasileira”. Vale ressaltar que uma crítica constante, nos últimos anos, era o reduzido número de poetas brasileiros convidados para a programação principal.
5 - Uma das mesas mais fortes da Flip foi a da escritora Maria Valéria Rezende com o rapper angolano Luaty Beirão. Maria Valéria chegou a lembrar de um truque que usou durante a ditadura para libertar sindicalistas presos. Usava o sobrenome em comum que tinha com o então ministro dos transportes da ditadura, Eliseu Resende (1979-1982) - “Eu entrava na delegacia dizendo ‘se encrencar comigo vai ver’. E dizia que era prima do Eliseu. E eu não era, claro. Sabia nem quem era esse cara”.
6 - Luaty Beirão aproveitou para dizer que, em Angola, o rap é a principal forma de invervenção. “Não é o jornalismo, não é nada”, disse.