“Eu não acredito na realidade”, profere o escritor jamaicano Marlon James durante uma manhã ensolarada de sexta-feira (28), em coletiva de imprensa. Autor de Breve história de sete assassinatos (Editora Intrínseca) e ganhador do Man Booker Prizer, James está no Brasil pela primeira vez como convidado da programação principal desta décima quinta edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Breve história de sete assassinatos está posto na Jamaica dos anos 1970 e 1980, na qual várias personas – incluindo um fantasma e Bob Marley – perpassam por narrativas que envolvem o narcotráfico, condições socioeconômicas e violência.
Para James, o seu livro trouxe à tona questões políticas pouco discutidas no seu território, em especial, pela população mais jovem. Em certo sentido, Breve história de sete assassinatos funciona como um romance de formação. De acordo com Lukács, em sua teoria do romance, existe uma reconciliação problemática (porém, possível) entre a interioridade e o mundo. James trabalha com esse ponto de angústia, descortina espaços antes nevoados e cria processos de concordância na ficção. “A literatura é uma batalha eterna”, afirma quando perguntado sobre a pressão de escrita pós-premiações e reconhecimento de público. “Mas, o que importa é a voz que você coloca no papel. O que interessa é a sua perspectiva, a sua ideia sempre será válida. Você sabe do que você está falando, as outras pessoas, não.”
Com referências literárias como Gabriel García Márquez, Roberto Bolaño e Mikhail Bulgákov, James afirma que a memória e o passado carregam consigo uma simbologia espiritual. “Os fantasmas sempre falam com a gente, mas o que ouvimos, depende de nós, de nossa interpretação”. Sobre as mudanças políticas desta edição do evento e a maior presença de autores negros, ele afirma que nunca vai ser suficiente. “Não existe conserto, faz parte de um processo. Nessa questão, não se chega a objetivos, nós precisamos continuar a revolução”. Para o escritor jamaicano, a invisibilidade de autores negros faz parte de um valor colonialista que continuar a ser perpetuado. “Mesmo que 99% da população seja composta por negros, o invisível persiste. A supremacia branca continua como discurso e os países colonizados – Brasil, Jamaica – estão no topo desse enunciado”.
Marlon James encerra a programação do sábado (29), ao lado de Paul Beatty, na mesa intitulada O grande romance americano, no Auditório da Matriz, às 21h30.