“A história do marxismo, desde que nasceu, há pouco mais de cem anos, está ainda por escrever”. Parece que as palavras escolhidas por Terry Eagleton, em 1974, para começar o livro Socialismo ocidentalganharam renovada força no início desse século. A retomada das lições deixadas por Karl Marx e por Friedrich Engels se explica, por um lado, porque em seu trabalho eles puderam analisar de tal forma a natureza do Capital, que lhes foi possível prever a atual crise desse sistema de produção — aliás, o que os dois alemães desvendaram foi a condição inerente de crise do capitalismo. É essa potência que explica a busca por Marx e Engels (busca que nunca se esgotou), empreendida por vários autores contemporâneos. E que no final das contas confirmam a previsão de Eagleton.
Talvez a contribuição de maior fôlego nesse sentido seja o projeto MEGA, abreviação em alemão para Marx-Engels GesamtAusgabe (algo como Marx-Engels produção total). Realizado pela Berlin-Brandenburgische Akademie der Wissenschaften (Academia de Ciências de Berlin-Brandenburgo), o projeto pretende colocar na forma de 114 volumes todos os trabalhos publicados, e também os manuscritos e a correspondência de Karl Marx e de Friedrich Engels.
Será uma edição crítica comprometida em ser filologicamente fiel aos textos originais. Muito do material a ser publicado será inédito. A expectativa é que o conjunto da publicação forneça uma documentação organizada de maneira que permita a compreensão do desenvolvimento de cada texto em manuscritos e edições impressas, combinado com comentários detalhados.
O gigantesco desafio que pesquisadores envolvidos (da Alemanha, Rússia, França, Dinamarca, Finlândia, Itália, Estados Unidos e Japão) têm diante de si deverá produzir um conjunto dividido em quatro seções: na seção I, livros, artigos e rascunhos. Na seção II, O Capital e seus estudos preliminares, nas quais todas as versões do principal texto de Marx são apresentados e pela primeira vez o extensivo, mas incompleto manuscrito terá sido decifrado e reconstruído (!); na seção III, correspondência, e na seção IV, enxertos, notas e comentários feitos em margens de livros (!!).
O esforço reunido coloca o MEGA como um dos mais excepcionais esforços de pesquisa de seu tipo. Quando o trabalho for finalizado, em 2025, terão sido necessários mais de 100 anos para fazer com que as palavras de Marx e Engels cheguem ao público leitor em sua forma original, ou seja, livre de censura. 2025... Que rosto o capitalismo terá então? Quantas faces e promessas fornecerá até lá?
EUROPA
Há alguma ironia no fato de a Comunidade Europeia ser uma das financiadoras do MEGA. Com milhares de desempregados e economias de pelo menos cinco de seus países em frangalhos, a Europa é um dos polos da mais recente crise do capital que tem forçado uma volta ao Marx economista e político. O caráter e as soluções dadas para a confusão que se instalou de forma mais evidente no coração do sistema desde 2008 explicam um pouco esse movimento. Há quem acredite que o panorama atual de desigualdades sociais e de classe a que se chegou, por causa dos elementos que deflagraram a crise, esteja muito próxima daquela que Marx descreveu.
De uma forma geral, a atualidade das interpretações de Marx está na capacidade de compreender o rosto do capitalismo agora — há muito tempo —, ao incorporar a denúncia das desigualdades de poder e riqueza, guerras imperiais, a intensificação da exploração, a alienação, a ubiquidade da forma mercadoria, a instrumentalização das relações sociais, o imperialismo inerente ao processo de modernização e a atuação cada vez mais repressiva dos estados a partir de interesses de classe. É atual também por clamar pela necessidade de repensar o espaço do processo (desigual) de acumulação de riqueza. Marx e Engels já sabiam que esse espaço era global, mas hoje esse espaço é mais aberto, descentralizado, denso.
Massimo Cacciari recentemente, numa entrevista, afirmou que o Marx “ainda capaz de falar a nós não é nem o profeta político, nem o intelectual ideológico. É, pelo contrário, o analista do destino do capitalismo, entendido como um formidável sistema social e cultural que produz um impulso desmedido para a criação de novas necessidades”. A frase perde um pouco de força se lembrarmos da história recente das crises mundiais, que nos mostram que a análise do capitalismo não pode prescindir da perspectiva ideológica. Uma chave virtual para entender a atual crise é justamente desse naipe.
Podemos nos perguntar se essa crise sinaliza por exemplo com o fim do neoliberalismo — o modelo elaborado pelos luminares da economia de mercado para dar conta da crise que se instalou como um vizinho indesejável na sala de estar dos anos 1970. Na verdade, o que se pode ver é que, da mesma forma que o próprio neoliberalismo foi um projeto de classe destinado a restaurar e centralizar a riqueza e o poder da classe capitalista, garantindo que os capitais fluíssem de um canto a outro; da mesma forma, as políticas atuais em curso propõem a saída da crise com ainda mais centralização do poder da … classe capitalista.
Ou, se não, vejamos. Desde 1973, houve centenas de crises financeiras no mundo todo — e muito poucas entre 1945 e 1973 (várias destas foram baseadas em questões de propriedade ou desenvolvimento urbano). Assim, o colapso atual não é original, a não ser no seu tamanho e alcance, assim como é totalmente compreensível o seu vínculo forte no desenvolvimento urbano e no mercado imobiliário (o sistema americano foi o que sentiu os primeiros estalos na fundação — para um relato ótimo da nova crise do capital, há o livro de David Harvey, listado abaixo). A retórica argumentativa do neoliberalismo envolvia liberdade individual, autonomia, responsabilidade pessoal e os benefícios da privatização dos bens do Estado, livre mercado e livre-comércio, com a queda de barreiras burocráticas, de mercado e de regulação. E ao mesmo tempo políticas draconianas de auxílio a economias menos desenvolvidas. O projeto foi muito bem sucedido, obrigado, a julgar pela concentração da riqueza em todas as economias nacionais que adotaram esse caminho.
A crise fiscal da cidade de Nova York, na metade da década de 1970, inaugurou o princípio, logo expandido para o mundo inteiro a partir de 1982, com a crise da dívida do México, de que o poder do Estado deve estar a serviço da proteção das instituições financeiras. É claro que essa prática contrariava outro princípio caro ao neoliberalismo, o da não-intervenção. Mas logo ficou claro entre os homens e mulheres que pilotavam os governos e os mercados, que socializar os riscos e privatizar os lucros, salvar os bancos e o sistema e endereçar a conta às pessoas era não somente fácil, era uma estratégia mais que racional: era a única coisa a fazer. As crises financeiras servem para racionalizar as irracionalidades do capitalismo.
O socorro atual (desde 2008) às instituições financeiras dado pelos cofres dos Estados, como resposta à crise financeira, é essa mesma história. No momento em que escrevo, a Espanha confirma a solicitação, ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, de ajuda ao seu sistema financeiro no montante de 100 bilhões de euros. É o quarto país europeu a receber auxílio internacional — além da Irlanda, Portugal e Grécia. É o FMI quem vai acompanhar a operação.
MODO DE OPERAR
O capitalismo tem revelado uma forte capacidade de se readequar às contingências negativas e de melhorar constantemente seu desempenho nos últimos duzentos anos. Parte desse êxito se deve à forma como o capital se relaciona com os constrangimentos, dificuldades e limites da natureza e de como ele se relaciona com o trabalho (a atividade das pessoas). Como Marx mostra, as soluções para as dificuldades são sempre por meio de novas tecnologias ou de formas de organização. Mais tecnologias e formas de organização superiores resultam em taxas de lucro maiores. É da observação desses fatores que Marx concluiu pela fetichização da tecnologia por parte dos capitalistas e que o levou a escrever que a “indústria moderna nunca vê ou trata a forma existente de um processo de produção como definitiva. Sua base técnica é, portanto, revolucionária, enquanto todos os modos de produção anteriores eram essencialmente conservadores”.
O que tal êxito sugere é que esse sistema produtivo tem fluidez e flexibilidade suficientes para superar todos os limites, ainda que aqui e ali com violentas correções e altos preços a pagar, como agora. É Marx quem oferece uma forma virtuosa de entender essa tendência “criativo-destrutiva”: o velho lembra que, por um lado, há uma capacidade ilimitada de acumulação monetária. Do outro, há todos os constrangimentos limitadores da atividade material (produção, troca e consumo de mercadorias, além dos humores do clima, a fertilidade da terra, a oferta de água e outros recursos). Ao contrastar essas duas dimensões, Marx indica que cada limite aparece como uma barreira a ser superada, é esse o embate constante e perpétuo dentro da geografia histórica que o pensador de Dresden conseguiu vislumbrar como nenhuma outra pessoa antes – Joseph Schumpeter também se dedicou às tendências criativo-destrutivas do capitalismo, mas ele e seus seguidores tratavam a destrutividade como o efeito colateral (inevitável dos negócios...).
Mas o aumento da frequência e da profundidade das crises do capital desde a década de 1970 se explicam justamente pela necessidade de se encontrar formas novas e inovadoras de reunir e distribuir capital na forma de dinheiro, além de formas para se explorar oportunidades lucrativas. Ou seja, desde mais ou menos 1973, se tornou um problema absorver montantes de capital excedente na produção de bens e serviços cada vez maiores para manter o capitalismo crescendo.
As inovações financeiras que estavam no olho do furacão de 2008, mais compreensíveis na forma das equações matemáticas que lhes dão consistência, foram desenvolvidas para superar as barreiras que o capitalismo encontra em sua própria natureza. É Marx também quem mostra que os movimentos desse tipo invariavelmente criam uma probabilidade séria de o financiamento tornar-se selvagem e desenfreado, gerando uma crise.
Da mesma forma, é Marx quem elabora um relato de como, por um lado, mudanças tecnológicas e organizacionais alimentam a tendência de queda na taxa de juro. Ainda que simplista, esse relato acerta ao mostrar como tais mudanças são essenciais na desestabilização de tudo e produzem crises de um tipo ou de outro. A pulsão por crescimento e, sobretudo, a fetichização das tecnologias, máquinas em particular e novas formas organizacionais, têm se revelado facas de dois gumes. Tal como no curso do amor verdadeiro, o efeito das carências e excedentes no fluxo do capital nunca é suave.
No início da década de 1980, no centro financeiro do capitalismo moderno, Wall Street, contavam-se nos dedos de um homem só o número de computadores. Em vinte anos, a inovação mobilizada para fazer a carruagem crescer de tamanho e prosperar e alocar os excessos de produção continuadamente tornou possível modelos matemáticos complexos, um mercado de opções e derivativos e outras inovações que chegaram a movimentar uma montanha de negócios da ordem de 600 trilhões. Boa parte disso pode ser considerada, nos termos do velho, ‘capital fictício’, conceito sem o qual é impossível se compreender a atual crise do capital. Pois o total de bens e de serviços realmente existentes no mundo não chegavam a 60 trilhões. A análise puramente econômica e histórica, que não observa o caráter ideológico do conhecimento e das tecnologias exigidas para apoiar o crescimento obrigatório do sistema, não dá conta desse tipo de coisa e essa é outra das razões da volta sem volta a Marx.
REDISCUTINDO MARX
A lista de livros recentemente publicados discutindo a crise em face aos argumentos do pensador alemão é um termômetro ou, melhor dizendo, um bom indicador da estação de Marx. É também interessante observar os nomes que encabeçam essas publicações: Frederic Jameson, Göran Therborn, David Harvey, Terry Eagleton, Alex Callinicos são autores de primeira linha, vamos dizer assim, com obras muito reconhecidas e importantes para o discurso (os discursos) das ciências sociais contemporâneas. Também é interessante observar os anos de lançamentos dessas obras.
Todos foram publicados de 2010 para cá – é o caso de O enigma do Capital, de David Harvey, escrito em 2009, mesmo ano em em que o Fundo Monetário Internacional alertava que mais de 50 trilhões de dólares em valores sólidos haviam se desmanchado no ar, como efeito da crise financeira que havia eclodido no ano anterior. Crise essa que, como sabemos, deu seus sinais ainda em 2006, com a execução de hipotecas residenciais nos Estados Unidos — primeiro nas áreas de baixa renda de cidades antigas ocupadas pela população negra, como em Cleveland e Detroit.
Harvey é autor dum livrinho chamadoCondição pós-moderna, apontado pelo jornal Independent como um dos cinquenta trabalhos de não-ficção mais influentes desde a Segunda Guerra Mundial. É leitura obrigatória para a discussão sobre as consequências, na contemporaneidade, dos efeitos do capitalismo tardio na vida social. Seu relato da quebradeira do sistema financeiro em O enigma do Capital, no primeiro capítulo, é impressionante pela clareza e precisão. O livro todo, na verdade, dá continuidade, de outra forma, a suas reflexões sobre o capitalismo tardio. Como não podia deixar de ser, o autor é muito influenciado pelos eventos ainda acontecendo — no meio do verão daquele ano, um terço do equipamento de capital dos Estados Unidos estava parado e para um sociólogo com origem progressista como ele não há como não se incomodar com esse tipo de coisa. O restante do livro é uma investigação, a partir do legado da economia-política de Marx, das razões da crise. Harvey investiga as razões que impedem o fluxo de capital acontecer, entendendo que a “estranha lógica de comportamento” desse fluxo é fundamental para entender o estado de crise constante que se intensificou no capitalismo a partir da década de 1970, e por decorrência o mundo em que vivemos.
Ao final do livro, Harvey se pergunta: “que novas linhas de produção podem ser abertas para absorver o crescimento?”. E responde: “Pode não haver soluções capitalistas eficazes a longo prazo (além da volta às manipulações fictícias de capital) para a crise do capitalismo. Em algum ponto, as mudanças quantitativas levarão a mudanças qualitativas e precisamos levar a sério a ideia de que estamos exatamente nesse ponto de inflexão na história do capitalismo. O questionamento a respeito do futuro do próprio capitalismo como um sistema social adequado deve, portanto, estar na vanguarda do debate atual”.
Apesar do pouco apetite para discussão — mesmo entre os partidos cujas siglas em algum momento podiam ser consideradas à esquerda do espectro político —, ou talvez por isso mesmo, a reinvenção da crítica é muito incipiente: “O problema central é que, no total, não há movimento anticapitalista suficientemente unificado e decidido capaz de desafiar de modo adequado a reprodução da classe capitalista e a perpetuação de seu poder no cenário mundial”, atesta Harvey. “Há uma vaga noção de que outro mundo é possível”, escrevia ele na primeira edição. No ano passado, Harvey escreveu um epílogo em que afirmava, mais otimista que “A tarefa da transição está conosco”, influenciado desta vez pelos levantes no mundo árabe, em Wall Street e na Espanha.
Representing ‘Capital’ — a reading of, de Frederic Jameson, é menos uma análise da crise econômica e de legitimidade política do sistema capitalista a partir da ótica marxista e mais uma visita a O Capital, propriamente. Jameson afirma que O Capital é um livro sobre o capitalismo — ok, isso já se sabia —, e mais especificamente sobre o desemprego. Ele diz que, desde a era Reagan/ Thatcher, se aprendeu mais sobre o capitalismo justamente na direção descrita por Marx. E identifica uma profunda contradição no sistema atual: há menos empregos e menos fábricas, dado os avanços tecnológicos e de gestão. Mas o sistema continua a necessitar de mais e mais consumidores para darem conta da produção. Para Jameson, este não é um problema (ainda sem solução) apenas da economia americana, mas de todo o mundo. Em seu texto há uma passagem na qual ele se pergunta “o que acontece quando o capitalismo se depara com uma contradição ou uma crise?”. Há um movimento de quebra, claro, e no livro o autor escreve que o capitalismo é “uma máquina peculiar, cuja evolução está em sua quebra, sua expansão em seu mau funcionamento, seu crescimento em seu colapso”. Ou seja, a quebra do sistema é dada na expansão do sistema. A leitura do livro dá a impressão de que Jameson acredita que estamos numa fase melhor do que a de Marx para “apreciar” os limites a que o capitalismo pode chegar, o que significa que estamos perto daquele ponto no qual as coisas se tornam intoleráveis e se torna claro que o sistema ou vai quebrar mesmo ou ser substituído por alguma outra coisa.
A pergunta que Göran Therborn coloca no seu From Marxism to Post-Marxism? é um pouco diferente. Os três ensaios que compõem a publicação não são inéditos, já haviam sido publicados separadamente na Left Review e em duas coletâneas das editoras Blackwell e Routledge, respectivamente. O autor se questiona o quem vem em seguida ao marxismo. De que modos essa escola de pensamento social mudou ou precisa mudar para se manter relevante nessa nova era? A primeira parte é um apanhado geral da circunstancias geopolíticas atuais, com uma perspectiva nas futuras possibilidades de um pensamento de esquerda.
Nessa parte, Therborn discute como a era do proletariado industrial se acabou de vez (na verdade, nunca foi um fenômeno global verdadeiro). O esvaziamento dos campos e a modernização social levaram a uma erosão das formas tradicionais de deferência baseadas em autoridade política, gênero, casta e classe e outras formas de privilégio. Isso, segundo o autor, tem o potencial de produzir “novas formas de rebeldia coletiva”, mas também tem expressado novas formas de autoritarismo, fundamentalismo e xenofobia. No final desse capítulo, o autor clama pelo que ele chama de trans-socialismo — uma perspectiva que “retém a ideia marxiana fundamental da emancipação da exploração e da discriminação”. Therborn finaliza afirmando que o século 21 começa muito diferente do século 20 — não mais igual e justo, mas com novas constelações de poder e novas possibilidades de resistência. O segundo capítulo trata do desenvolvimento do pensamento marxista entre 1917 e 1991. Para Therborn, o falecimento de Lefebvre neste ano demarca o fim do marxismo ocidental. O terceiro capítulo trata desse desenvolvimento de 1989 até agora.
Respondendo à questão que o título do livro coloca, Therborn afirma em alguma parte que não há dúvida da necessidade de tal mudança. E, nesse sentido, o pós-marxismo não aponta exatamente para o abandono dos insights de Marx e da tradição marxista ou uma renúncia da dialética da modernidade. Implica numa mudança das problemáticas históricas mais antigas para uma confrontação direta como os dias ruins atuais. Therborn conclui indicando que acredita que essa migração para o pós-marxismo já está em andamento, sendo um exercício (e um desafio) que pode permitir ao pensamento de esquerda entender melhor seu passado, presente e futuro.
Já Terry Eagleton, em sua crítica da sociedade contemporânea e defesa do ponto de vista de Marx (o nome do seu livro é Why Marx was right), os marxistas seriam os primeiros a ficarem felizes com o fim do marxismo: seria a comprovação de que a tarefa histórica que tomaram para si foi finalizada. Ao mesmo tempo, o texto de Eagleton endereça uma cobrança: o marxismo não pode se acomodar e se resignar na forma de um pensamento utópico. Isso porque, para Eagleton, o pensamento de Marx é atual como referencial teórico para as ciências humanas e como crítica filosófica da modernidade. E nesse sentido sempre esteve alinhado com as exigências políticas (éticas) mais urgentes para a sociedade contemporânea.
Sim, há algo de encarquilhado no discurso de Eagleton. Por outro lado, há coisas para as quais a adjetivação não se aplica: racionalidade, autonomia, igualdade, são credenciais modernas radicalizadas pela crítica marxista, presentes nas diversas formas de expressão anticapitalistas — mesmo em formas não-marxistas e até anti-marxistas — desde o século 19. É por isso que Eagleton afirma em alto e bom som que é o capitalismo que cansou e que está fora de moda, por atentar contra dimensões, anseios, necessidades e categorias que não envelhecem. Quase no final do livro Eagleton afirma a necessidade de se deixar de lado o mito da riqueza fabulosa, material ou imaterial, prometida ali no final do arco-íris.
Para finalizar, vale à pena ler o livro de Mary Gabriel, publicado no final de 2011 e que se detém na vida pública e privada da família formada por Jenny e Karl Marx.